Maputo – primeiras impressões de Mozambique

Loja de calçados em Maputo

Ficamos receosos de fotografar a multidão a esperar os ônibus a saída da antiga estação de trem de Maputo. Era uma cena tão africana – e ao   mesmo tempo quase ultrajante.

A cidade é suja. É pobre. Faltam calçadas, os prédios com arquitetura portuguesa, tão conhecidos dos brasileiros, caem aos pedaços. Há gente por todo o canto, andando de um lado a outro, vendendo de tudo em  barracas improvisadas nas ruas: sapatos, laranjas, água, arte.

De repente, entra-se em uma construção mal conservada e ali está um café enorme, com ar condicionado e as gentes de terno e os turistas – e os brancos em geral. A antiga estação de trem, por onde ainda circulam alguns comboios, destoa na paisagem pobre de Maputo. É enorme e linda, foi um oásis depois de tanta informação – descobrimos um restaurante lá dentro e paramos para almoçar, nossa primeira experiência com o camarão de Moçambique, que alegam ser o melhor do mundo. Não sei se é o melhor do mundo, mas é o melhor que comemos até hoje.

Mas o caso é que na saída, já depois de horas caminhando e depois de todos os pontos turísticos de Maputo, que não são muitos, ficamos atordoados com o tanto de gente, de sujeira, de ônibus apinhados, de lindas capulanas coloridos (a maioria das mulheres  veste-se com o que no Brasil chamamos de canga – é uma camiseta e uma capulana como saia) e acabamos não conseguindo filmar ou fotografar nada.

Dizem os guias de turismo que Maputo é uma das capitais mais esfuziantes da Africa. Há um tempo paramos de acreditar nos guias, porque em sua maioria são escritos por europeus ou americanos, que tem uma visão de mundo bem distinta da nossa. Mas, dentro do contexto de um continente em que tudo falta, Maputo realmente deve estar entre as melhores. É como se as partes mais pobres de São Luis e Salvador se juntassem a formar uma cidade.

Moçambique é um país em construção, sua capital não poderia ser diferente. Ao mesmo tempo em faltam calçadas, há muitos carros a circular e um centro cultural agradável como o Franco-Moçambicano.  Há uma juventude querendo fazer diferente, orgulhosa de que as mulheres passaram a ter direitos e começaram a trabalhar nos últimos anos. Há muito desemprego, muita pobreza e muita tristeza nos olhares . Há sempre alguém a esmolar.

E muitos, muitos estrangeiros a re-colonizar um país que tornou-se independente em 1975 e que depois disso enfrentou anos de guerra interna. No dia 4 de outubro, quando chegamos a Maputo, comemoravam os 20 anos de paz.

Um país que saiu de uma guerra é um país onde o conceito de violência é um absoluto relativo: quando pergunto a Benjamin se Maputo é violenta: “ah, hoje não, há muito menos armas. Existem roubos de carros e há que tomar cuidado em algumas zonas da cidade, mas violento não é”.

A herança da guerra não está apenas em um desemprego altíssimo, na falta de infra-estrutura e de educação. Está em todos os uniformes militares, do segurança do banco aos supervisores da estação de trem. Aliás, há seguranças por toda a parte, armados com fuzis. Aliás, há um fuzil na bandeira de Moçambique. Mas no Brasil não tivemos a guerra –  e há fuzis nas mãos de muita gente.

(Vilankulos, 07/10/12)

Estação de trem em Maputo

Uma resposta para “Maputo – primeiras impressões de Mozambique

  1. Bonita a estação de Maputo, bem diferente da que temos aqui em Gramacho, Duque de Caxias – Rio de Janeiro – Brasil

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